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Notícias

5 de setembro de 2017

Quem são eles?

Você já parou pra pensar quem são os homens que alimentam os dados estarrecedores de violência contra a mulher? Quem são estes caras que agridem, espancam, estupram e matam, deixando o Brasil na indigesta 5ª posição em um ranking global de violência contra a mulher?
Seis em cada dez brasileiros afirmam conhecer mulheres que foram ou são vítimas de violência. E se você conhece a vítima, provavelmente conhece também o agressor, já que, na acachapante maioria dos casos, a violência contra a mulher é cometida por seu namorado, marido ou companheiro.
Ou seja: o agressor não é um monstro de sete cabeças no meio da neblina. Ele não é um estranho. Ele é teu amigo, teu vizinho, teu pai, teu irmão. Ele pode ser – veja só! – até mesmo você, caro leitor.
Infelizmente nenhum vem com plaquinha de identificação, e este é o maior problema: o fato de poder ser qualquer um faz com que todos pareçam ser, e é assim que nós, mulheres, passamos a viver em constante estado de medo. Medo de usar uma saia muito curta. Medo de pegar transporte público e privado. Medo de andar na rua às oito da noite ou às três da tarde. Medo daquele desconhecido que caminha atrás de mim na calçada. Medo de precisar chamar o encanador para consertar a torneira quando estou sozinha em casa.
Toda mulher é uma vítima em potencial apenas por ser mulher. Mas os homens que não são violentos também pagam um preço pelos que são, e acabam indiretamente afetados pelo mesmo machismo que nos agride, nos estupra e nos mata. Afinal, se toda mulher é uma vítima em potencial apenas por ser mulher, todo homem é um abusador em potencial apenas por ser homem.
Seria diferente se nós, mulheres, não precisássemos estar sempre alerta. Se pudéssemos confiar no motorista, no encanador, no vizinho, no estranho com quem dividimos a calçada, no amigo que nos dá carona depois da festa. Seria diferente se pudéssemos confiar em ti, leitor.
Então, se você é homem e não agride nenhuma mulher; se você respeita uma desconhecida de minissaia na rua do mesmo jeito que respeita sua mãe; se você não bate, não humilha, não estupra e não mata; antes de se levantar indignado, com o dedo em riste, dizendo “mas nem todo homem...” ou “mas eu não sou assim...”, cale sua boquinha, ouça com atenção e observe o seu entorno.
Porque palavras rasas de autodefesa não mudam a realidade, não diminuem o nosso medo e nem fazem com que menos mulheres sejam agredidas e violadas.
Se você não é, ótimo, mas olhe em volta: você verá que muitos daqueles que te rodeiam, teus amigos do peito, teus bróders, teus camaradas, são os mesmos caras que alimentam as estarrecedoras estatísticas da violência contra a mulher, e me fazem ter medo de chamar o encanador quando estou sozinha em casa.
Você também conhece o agressor. Por isso, se o teu amigo pratica violência e você se cala, saiba que você é conivente. E conivência, meu caro, é cumplicidade. Logo, o nosso medo constante, infelizmente, sempre se justifica.

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