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Notícias

9 de outubro de 2017

“Ele se deu bem na vida”

 

Se existe um equívoco em nossa sociedade é o significado que damos ao conceito de ser “bem-sucedido” – algo diretamente atrelado ao montante que você ganha por mês. “Se deu bem na vida” quem tem mais dinheiro. É feliz e realizado quem comprou a maior casa, o carro mais caro, o celular mais moderno.

Obviamente é hora de rever nossos conceitos, e desconstruir algumas ideias engessadas que costumamos repetir sem nunca avaliar profundamente o que realmente significam – e o peso que têm em nossas vidas.

Tenho amigos que, aparentemente, “não se deram bem na vida”. Mal ganham para pagar o aluguel do apartamento quarto e sala onde moram, e não são exatamente o orgulho da família, e nem os genros ou as noras que sua mãe pediu pra Deus. No entanto, são pessoas felizes e realizadas. Gente que vive numa boa, que acorda pela manhã com ânimo e satisfação, que se sente bem sendo quem é e fazendo o que faz.

Em contrapartida, também tenho amigos que “se deram bem na vida”. Eles ganham bem, moram bem, comem bem, andam de carro importado, viajam para o exterior, bebem uísque de R$500. E levam uma vida de merda. São escravos do dinheiro, e precisam de muito para viver. São pessoas estressadas, cansadas, irritadas, presas em uma rotina estafante, sempre em função de ganhar mais, mais, mais.

Ganhar mais para ter mais dinheiro para comprar mais coisas que não poderão aproveitar porque trabalham demais para ter mais dinheiro para comprar mais coisas. Uma roda perigosa e doentia, da qual muitos não conseguem sair jamais.

Mas estes, pelo que dizem, “se deram bem na vida”. São o orgulho da família, os genros e as noras que sua mãe pediu pra Deus. São invejados; são referência na sociedade, na profissão, no clube que frequentam, em seu círculo de relações.

Acredito que deveríamos, enquanto sociedade, repensar a ideia que fazemos sobre “se dar bem na vida”. Deveríamos parar de ensinar nossas crianças a se adaptarem em um modelo social competitivo e selvagem, no qual é obrigatório ganhar muito para ser feliz.

Porque, na prática, a maioria das pessoas que você acha que “se deu bem”, se deu foi mal. Pois, para manter um estilo de vida que julgamos ser o mais feliz, nos embrenhamos em uma rotina acelerada, alucinada e cansativa, onde “ter dinheiro” passa a ser o único objetivo de sua existência.

Acredite em mim quando digo: “ter dinheiro” não fará de você alguém melhor, mais feliz e mais realizado. A questão financeira é somente uma fatia deste bolo chamado vida, e sozinha esta pequena parte não será capaz de lhe salvar de uma vida de merda.

Porque as pessoas mais felizes que eu conheço são aquelas que, para a sociedade, e até para suas próprias famílias, falharam profissionalmente; fracassaram financeiramente.

E é por isso que eu afirmo, sem medo de errar: se para “me dar bem” eu preciso vender a minha vida, a minha alma e o meu tempo, e passar a correr delirantemente atrás de mais dinheiro para comprar o que eu não preciso e mostrar para pessoas que eu não conheço alguém que eu não sou, obrigada.

Mas definitivamente não estou interessada.

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