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Notícias

5 de fevereiro de 2018

A cova do bandido

Em Carazinho, assim como em todo território nacional, a violência está fora de controle, e parece somente aumentar. Crimes que só víamos na televisão passaram a acontecer bem debaixo dos nossos narizes. Então colocamos grades nas portas e janelas, compramos cadeados, cercamos nossas casas e andamos por aí arredios e desconfiados. Assaltos, assassinatos, bestialidade e salve-se quem puder.

Neste contexto, é compreensível que a população fique revoltada. Ninguém gosta de viver com medo. Logo, a insegurança e a indignação despertam em nós o que ainda temos de mais selvagem e primitivo. E como todo animal assustado e encurralado, nossa reação natural é atacar.

Deste modo, movidos pelos nossos instintos mais básicos, enfurecidos e insensatos, passamos a acreditar em soluções rasas para resolver problemas profundos, como é o da violência. Bradamos por pena de morte; queremos linchar o bandido; exigimos andar armados para matar antes de morrer. A raiva e a revolta nos fazem procurar na vingança o que deveríamos buscar na justiça.

Repito: é normal. Trata-se de uma resposta orgânica, fisiológica, automática perante o perigo. Todos os animais reagem assim.

Entretanto, há uma diferença crucial entre a gente e os demais seres vivos que habitam este planeta: nós somos os únicos que raciocinam. Os únicos capazes de formular sociedades e pensamentos complexos. Os únicos em condições de colocar a razão acima do instinto, e fazer justiça, ao invés de simplesmente contra-atacar.

A violência se alimenta de si mesma. Matar o bandido pode saciar, momentaneamente, nossa fúria e nossa sede de vingança, mas de modo nenhum resolve o problema – apenas o fortalece.

Se nós pretendemos viver em uma sociedade minimamente decente e segura – e eu pretendo – não podemos achar que é agindo como o bandido que acabaremos com a bandidagem. Trata-se de um raciocínio lógico. E precisamos usar a razão, e não nosso instinto primitivo de sobrevivência, se quisermos um dia tirar as grades das janelas e dormir em paz.

Confúcio, pensador e filósofo chinês, disse: “Antes de sair em uma jornada de vingança, cave duas covas”.

Combater a violência sendo violento é como apagar incêndio com gasolina. Se continuarmos buscando apenas vingança diante da criminalidade, estaremos cavando não somente a cova do bandido; mas a nossa própria cova também.

TAGS: jana lauxen

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