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Notícias

13 de março de 2018

LEITE - Baixo preço motiva abandono da atividade

 

Nenhum produto agrícola é mais importante que o leite para manter renda na atividade familiar rural.  Só no ano passado, 25 mil produtores abandonaram a atividade no Rio Grande do Sul e muitos estão prestes a tomar esta decisão. O clima de desânimo poderá ser confirmado durante o 14º Fórum Estadual do Leite que ocorre na Expodireto Cotrijal nesta quarta-feira (7), com início às 8h30min.

- Ninguém tem vontade de participar pra escutar palestrante falando de reduzir custo de produção em vez de se tratar de mecanismo de proteção à atividade – comentou o produtor Luiz Carlos Schuster, de Não-Me-Toque, relatando as conversas no grupo de produtores que entregam sua produção para uma indústria da região.

Schuster está na atividade há 30 anos. É um produtor de leite de ponta da Cotrijal. Sua forma de manejo é considerada modelo, no entanto, está decidido a abandonar a atividade. Produz o próprio pasto, a silagem e tem um empregado para atender as 25 vacas.

Hoje tem produtor recebendo da indústria até R$ 0,60 por litro, que tem o custo de produção próximo a R$1,00.

Suas vacas de alto potencial genético rendem até 33 litros de leite por dia, e o valor que recebe por litro – R$ 1,00 – apesar de ser muito superior ao que recebe a grande maioria dos produtores da área de ação da Cotrijal, é absorvido pelo custo da produção de R$ 0,93 por litro.

A situação é a mesma para Ari José Guaranhi, de Linha Paquinha, município de Colorado. Tem 16 animais, produz leite em regime de economia familiar há 35 anos e já decidiu que vai se desfazer das vacas.

- Não tem graça trabalhar tanto e não ter lucro. Meus três filhos já optaram por outra atividade – fala, desanimado.

No final da tarde de domingo, enquanto maneja as vacas para a ordenha, Schuster faz as contas:

- Uma vaca com boa genética custa em média R$ 5 mil e, se formos considerar o lucro da atividade para pagar o animal, lá se vão mais de quatro lactações. Estamos falando de centavos por litro e de uma política que não se preocupa em proteger a atividade, prefere facilitar a importação pra agradar a indústria, que fica com todo nosso lucro – desabafa.

Em junho de 2016, o valor pago pela indústria ao produtor chegava a R$ 1,87, mas em 2018, não passa de R$ 1,15. De acordo com o engenheiro agrônomo da Emater Flávio Joel Laz Fagonde, hoje, os produtores estão com os preços comprimidos, as indústrias estão pagando pouco aos produtores. O consumidor final não está pagando um preço tão elevado. A margem de lucro do produtor baixou, a margem da indústria também baixou… os custos é que oneram a atividade.

O produtor Luiz Carlos Shuster tem 30 anos de atividade e está decidido a parar, assim como 25 mil produtores gaúchos já abandonaram a atividade em 2017

Importação

As importações brasileiras são provenientes majoritariamente do Uruguai e da Argentina, facilitadas pelos acordos de livre comércio do Mercosul. Nos primeiros seis meses de 2017 o déficit foi de 781 milhões de litros de leite, com gastos de US$ 319,5 milhões, indicando tendência de um ano com compras no mercado internacional maiores que as de 2015, que foram de 653 milhões de litros. A importação de lácteos em 2016 foi de 1,644 milhões litros de leite.

Em defesa da classe

Em pronunciamento no dia 27 de fevereiro, o senador Paulo Paim (PT-RS) falou sobre a grave crise que enfrentam os produtores de leite de economia familiar. O senador apresentou documento que aponta o abandono da atividade leiteira por 25 mil produtores do Rio Grande do Sul, em 2017, por não suportarem o baixo preço do produto, que é vendido com prejuízo de até R$ 0,40 por litro.

O presidente da Fetag, Carlos Joel da Silva, e o vice-presidente Nestor Bonfanti, participaram da Assembleia Geral de Verão da Famurs, em Torres, onde solicitaram apoio da federação dos municípios para enfrentar os problemas da cadeia produtiva do leite. Joel entregou um documento comprovando que 2017 foi um ano de extrema dificuldade para os agricultores familiares produtores de leite. As perdas somam 19% de rentabilidade (Fonte: Emater-RS, período de janeiro 2017 - janeiro 2018), o que tem levado os agricultores a abandonarem a atividade por total desestímulo.

O presidente da Fetag enfatizou que os investimentos feitos nas propriedades são preocupantes, já que foram contraídos financiamentos junto aos agentes financeiros, como custeios e, inclusive, empréstimos pessoais. Hoje, a receita obtida da atividade não dá condições de honrar os compromissos assumidos.

Impacto na economia

O impacto negativo no comércio dos municípios afetados com a acentuada queda nas vendas já é sentido. Com o faturamento baixo ocorre o atraso sistemático do cumprimento das obrigações, o que reduz o retorno de ICMS que os municípios terão daqui dois ou três anos.

Demandas

Diante deste momento crítico, a Fetag apresentou as seguintes demandas, que serão necessárias para amenizar os impactos da crise leiteira:

Intervenção do Governo Federal no financiamento de estoques, com juros baixos para as cooperativas da agricultura familiar; imediata aquisição, via compras públicas, de 50 mil toneladas de leite em pó; alongamento dos financiamentos de investimento para após a última parcela e de custeio pecuário (3 anos); possibilidade de liquidação das operações de custeio agropecuário e investimento com rebate de 20%; criação de uma linha emergencial no Pronaf, com 3 anos para pagar e um bônus de adimplência de 20% em cada parcela; revisar o Preço Mínimo do Leite, que assegure os custos variáveis e fixos; melhorar os mecanismos de coleta e análise de leite das propriedades para dar mais confiabilidade, pois ocorrem inúmeras queixas em relação aos resultados; e determinar a equivalência de alíquotas de ICMS para o leite produzido no Rio Grande do Sul e o proveniente do exterior.

 

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