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Foto: Reprodução.

25 de março de 2021

Prefeitura de Carazinho promove campanha contra esmola e placa viraliza nas redes sociais

O governo municipal do município de Carazinho por meio da secretaria de Desenvolvimento Social em parceria com o Centro de Referência de Assistência Social – CREAS, iniciou na terça-feira (23) a campanha “Não dê Esmola, dê Oportunidade – Sua Esmola alimenta uma falsa Esperança”, que objetiva conforme a secretaria, conscientizar a população para a importância de mudar a cultura assistencialista de que oferecer esmola como um gesto solidário.

Com o auxílio do Departamento Municipal de Trânsito - DMTA foram instaladas placas na cidade, a que mais chamou a atenção da comunidade foi a instalada em frente a sede do Executivo Municipal, na Avenida Flores da Cunha.

Foto: Divulgação/Prefeitura de Carazinho.

Porém, a campanha não agradou uma grande parcela da população. Os moradores foram até suas redes sociais e divergiram sobre a campanha em vários aspectos sociais, fazendo com que a mesma viralizasse na região.

A escritora Jana Lauxen, em um forte depoimento em sua conta no Facebook desabafou: 

"Eu moro em um bom bairro de Carazinho. Pelo menos dois dos meus vizinhos mais próximos vivem em verdadeiros casarões. Apesar disso, apenas três quadras daqui tem uma favela. Sim, existem favelas em Carazinho, amigão! E esta, a poucos metros da minha casa e dos casarões, fica atrás do CAIC e é conhecida como Beco da Cuiabá. Quinze anos atrás, aquele local era um descampado onde cavalinhos pastavam na santa paz de Deus. Agora, são centenas de casinhas e casebres e pessoas e crianças amontoados sem qualquer estrutura. A pobreza nua e crua, sem maquiagem e trilha sonora.

Em frente à minha casa e pertinho dos casarões, há alguns anos também colocaram um contêiner de lixo. Bem de frente pra janela da nossa sala, como uma tela da desigualdade obscena que devasta nosso país. Todos os dias, religiosamente, passam por ali mulheres, crianças, jovens, grávidas, adolescentes e idosos, seres humanos, que se embrenham dentro do contêiner imundo atrás de lixo. De latinhas. De papelão. De comida. Certa vez, meu pai colocou ali no chão os restos do almoço, para os cachorros de rua. E qual não foi sua surpresa quando viu uma moça pegando aqueles restos do chão e comendo com as mãos, sentada na sarjeta.

Desde o início da pandemia, é visível o aumento no número dos catadores de lixo. Falo porque vejo da janela da minha casa – e você provavelmente vê da sua. Porém, apesar disso, a Prefeitura Municipal de Carazinho, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social em parceria com o Centro de Referência de Assistência Social (CREAS), teve a brilhante ideia de lançar esta campanha, cuja foto compartilho logo abaixo. “Não dê esmola, dê oportunidade – Sua esmola alimenta uma falsa esperança”.

O Cazuza pediu e o Brasil está finalmente mostrando a sua cara. Ou melhor dizendo, o Brazil. Com Z.

Essa merd@ de campanha, que só pode ter saído da mente lunática ou canalha de alguém completamente descolado da realidade, tem tantos problemas que eu nem sei por onde começar.

Primeiro: quem tem fome tem pressa, rapaziada. Essa balela de ensinar a pescar em um rio seco é conversa mole pra acalmar a consciência de classes privilegiadas, que acham que fome é o que eles sentem entre o almoço e a janta. Pessoas que juram que “não existe miséria em Carazinho”. Que preferem pedir que a prefeitura retire o contêiner de suas portas porque né? Perturba a sua existência cor-de-rosa. Pessoas que, mesmo com uma favela a poucos metros de suas casas, só veem o que querem e convêm.

Segundo: estranho. Antes da eleição, distribuir cesta básica na periferia da cidade estava valendo.

Terceiro: “dê futuro?”. “Dê oportunidade?”. O que isso significa exatamente, cara Prefeitura Municipal de Carazinho? Contratar o pedinte para cortar a grama da minha casa? E ele vai fazer isso com que equipamento? Devo, enquanto empresário, dar emprego? Como, se estamos todos falindo? Como, se boa parte destas pessoas vive na completa indigência, não tendo sequer documentos ou um endereço para preencher um cadastro?

Quarto: quem pode e deve dar futuro e oportunidade às pessoas é você, poder público. Por isso pagamos impostos e elegemos pessoas e partidos a cada quatro anos. Já passou da hora da gente compreender o que é papel do cidadão e o que é papel do poder público. Eu, enquanto cidadã, posso dar um prato de comida, auxiliar em alguma necessidade emergencial, colaborar com uma ONG, comprar um chocolate para o menino de rua ou dar R$2 ao artista que faz malabares no sinal. Afora isso, na prática, posso muito pouco.

Mas sabe quem pode dar futuro e oportunidade às pessoas, poder público? VOCÊ! Trazendo investimentos e gerando empregos, por exemplo. Podia, quem sabe, ter mantido em nossa cidade o Centro Municipal de Ensino Profissionalizante (CEMEP), gratuito e custeado pela prefeitura, mas que acabou em 2017. E o que falar do Instituto Federal Farroupilha, que oferecia cursos profissionalizantes gratuitos para a comunidade mais vulnerável? Aquele mesmo, que você perdeu em 2019 por puro e retumbante descaso, lembra? Mas que nada, Carazinho é “cidade educadora”, diz aquela placa!

Eu juro que não sei se é burrice ou mau-caratismo. Acho que é tudo isso misturado. Porque, ao invés de estimular entre as pessoas o senso de coletividade, de empatia e solidariedade, de ajudar quem mais precisa, principalmente em tempos como este, de miséria exposta, a Prefeitura Municipal de Carazinho decide lançar essa ideia totalmente desconectada dos fatos e, sobretudo, escrota e egoísta. Um desserviço completo e gritante que, além de não ajudar, atrapalha.

Sabe o que eu acho? A pandemia revelou o que nós, classes privilegiadas, sempre olhamos para o lado para não ver: a enorme e inaceitável desigualdade de nosso país, de nossa cidade. A pobreza saltou aos nossos olhos e esfregou em nossas fuças e feridas uma realidade que nos esforçamos para ignorar. E aí, desesperados, seguimos repetindo estes conceitos caducos, agarrados nas boias furadas de nossas velhas crenças, que já eram velhas quando nossos bisavós as repetiam, dois séculos atrás. Crenças que não maquiam mais a nossa face perversa.

Eu me lembro, desde que eu era criancinha, de ouvir os adultos dizendo que não devíamos dar nada para as crianças de rua, pois “suas mães estavam na esquina bebendo”. Que é “tudo pra comprar droga”. Que não sei quem ganhou não sei quanto em um único dia, pedindo no semáforo. Lembro até de uma lenda, na qual uma das moradoras de rua mais célebres de Não-Me-Toque tinha uma mansão com piscina não sei onde. Fake news dos anos 90.

Mas se o cara ganhou R$200 pedindo no semáforo, por que você não larga o emprego que te paga R$50 por dia e vai pro sinal, ô mané?

Estas pessoas, que são “contra o assistencialismo”; essa galera do “ensine a pescar”; são as mesmas que, no Natal, pegam uma cartinha do Papai Noel nos Correios, compram uma bola de 5 pila e se sentem muito cristãs. Cuidado, amigo leitor! São tipos perigosos!

E por último, mas não menos importante: que porr@ de assistência social é esta que a gente tem em Carazinho? Porque não é possível que a nobre secretária de nosso município simplesmente não conheça a realidade periférica da cidade que deveria assistir. Se ela vier uma única vez ao Beco da Cuiabá e caminhar entre os casebres e conversar com as pessoas e entrar em suas casas e olhar para suas geladeiras, quando tem geladeira, é impossível que continue repetindo esse discurso ordinário de ensinar a pescar.

Inclusive deixo o convite para a prezada secretária. Dá um pulo aqui no Beco da Cuiabá, meu anjo, e depois vem me falar em dar futuro para quem tem fome".

Já a posição da primeira-dama e secretária de Desenvolvimento Social, Andréia Schmitz, diz que o objetivo da campanha é possibilitar as pessoas que estão em situação de rua e mendicância a possibilidade de recomeçar, por meio de encaminhamentos para as políticas de Assistência Social.

“A sensibilização das pessoas, empresas e comércio local é de extrema importância. É preciso que se compreenda que o ato de “dar esmola”, que é feito com a melhor das intenções, não é a ajuda ideal”, disse Andréia.

Além da instalação das placas, a campanha ainda prevê ações como buscar parceria com entidades empresarias ligadas ao Comércio, Indústria e Prestação de Serviços, para divulgação. E também a produção de folders, cartazes e totem, informando os telefones de contato dos serviços da secretaria de Desenvolvimento Social que podem ser acionadas para encaminhamento dos usuários.

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