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Notícias

5 de julho de 2022

Pesquisadores da UFSM investigam o fenômeno do vento norte

“Uma bagunça. Revira o cabelo, leva as roupas do varal, bate portas e janelas dentro de casa. O vento norte é uma bagunça.” Essa é a definição do vento norte para Rafaela Shoutestazw, graduanda do curso de Direito na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Até pouco tempo, esse fenômeno meteorológico era conhecimento empírico e não havia dados científicos capazes de caracterizá-lo.

O vento norte marca presença em Santa Maria: veloz, quente e seco. Carrega folhas, bagunça o cabelo, fecha e abre portas e janelas. De acordo com o professor de graduação e pós-graduação em Meteorologia da UFSM, Ernani de Lima Nascimento, o vento começa por meio de um sistema de baixa pressão que se forma próximo ao litoral do Rio Grande do Sul ou do Uruguai. É quente e seco, pode ocorrer com fortes rajadas, principalmente em cidades do interior do estado, como Santa Maria. Para Ernani, além de assustar algumas pessoas, o vento norte pode ser prejudicial na questão ambiental, já que ele tem a capacidade de dispersar fuligem e poluição por vários lugares.

Suas características e peculiaridades, principalmente na região central do estado, despertaram a curiosidade de três pesquisadores

Suas características e peculiaridades, principalmente na região central do estado, despertaram a curiosidade de três pesquisadores. Foi assim que surgiu o trabalho “Observações Meteorológicas do Fenômeno Vento Norte na Região Central do Rio Grande do Sul” (em inglês, no original: “Regionalscale meteorological characteristics of the Vento Norte phenomenon observed in Southern Brazil”). A pesquisa foi organizada pelo docente do  Departamento de Física da UFSM, Gervásio Degrazia, juntamente com Michel Stefanello, doutor em Física pela UFSM e professor substituto no Departamento de Física, e por Cinara Ewerling da Rosa, doutora em Meteorologia pela UFSM e professora do Instituto Federal Farroupilha (IFF-São Vicente do Sul). O trabalho analisou os movimentos turbulentos provocados pelo vento norte, que afetam desde os habitantes das cidades até a produção agrícola. Além disso, segundo a professora Cinara, havia a necessidade de definir o que seria o vento norte.

Inicialmente, o fenômeno transporta a massa de ar da região central do Brasil, onde as temperaturas são mais elevadas. Ao chegar no sul, o ar quente se encontra com o ar frio, o que causa a mudança de temperatura e provoca a sensação de calor. Michel explica que o início do fenômeno é marcado pelo aumento de temperatura, fortes rajadas e diminuição da umidade, enquanto o  fim  traz chuva, aumento de umidade e diminuição da temperatura.

Por que “vento norte”?

Uma dúvida muito comum entre as pessoas é sobre o nome do vento. Os professores Ernani e Gervásio explicam que a nomenclatura é atribuída por causa da sua direção. O vento sempre sopra para o sul, desta forma, sua origem é o norte. De acordo com os pesquisadores, apesar de inicialmente se apresentar com rajadas quentes, o vento norte anuncia uma frente fria.

A pesquisa

Gervásio conta que os objetos de estudo utilizados para a pesquisa foram escalas micrometeorológicas, escalas de tempo, de dispersão, dados de torres do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), como de velocidade do vento, de temperatura, direção do vento, umidade, pressão, rajadas e modelos baseados em equações. Ele explica que a pesquisa auxilia na obtenção de dados para realizar as equações sobre o fenômeno, já que elas teriam o papel de descrever as consequências.

Para coletar dados de turbulência do vento norte, em 2008 Gervásio recorreu à Torre Micrometeorológica de Paraíso do Sul, município da região central gaúcha. Com isso, foi possível estudar a estrutura e os aspectos turbulentos da ventania e realizar uma modelagem de dispersão (simulação) dos efeitos do fenômeno.

Após essa análise, os professores Michel e Cinara começaram a investigar o fenômeno em Santa Maria a partir da Torre Meteorológica da UFSM. A partir desses  dados, Cinara redigiu uma tese sobre como o vento norte se comporta na cidade. O estudo da pesquisadora teve duração de nove anos e incluiu diversas cidades do Rio Grande do Sul – desde Alegrete, passando por Cruz Alta e indo até Rio Pardo, para tentar identificar e comparar características do vento norte desses locais em relação à Santa Maria. A pesquisadora concluiu que, devido à posição geográfica, a intensidade do vento é maior na região central do estado: as rajadas podem chegar a 200% da velocidade dos outros lugares. Na pesquisa, foram analisados, de forma conjunta, dados de temperatura, direção do vento, umidade relativa, campo de pressão e velocidade. Segundo os pesquisadores, dados horários disponibilizados pela torre regional do INMET foram importantes para verificar e estabelecer padrões sobre o fenômeno.

Os pesquisadores chegaram às seguintes conclusões quanto às pré-condições de existência para o vento norte:

  • O vento norte ocorre de forma mais intensa onde há descontinuidade na topografia, ou seja, quedas de altura no relevo, como é o caso de Santa Maria, cidade cujo relevo é marcado por morros;
  • As baixas elevações no terreno, conhecida como Depressão Central, podem ser o motivo para a velocidade e calor do fenômeno;
  • A velocidade das rajadas de vento norte é superior a 11 m/s, ou seja, 39 km/h. Podem ocorrer rajadas com velocidade acima dos 80 km/h: nesses casos, há registros de destelhamento de casas;
  • No início do fenômeno, há um aumento na temperatura do ambiente e diminuição da umidade, enquanto no final ocorre a formação de uma frente fria seguida de chuva;
  • O vento norte geralmente inicia no período da madrugada. Quando dura o dia todo, o vento geralmente tem um período de calmaria pela tarde;
  • Quanto mais intenso é, maior será a duração. Durante o período de realização da pesquisa, o máximo de tempo que o fenômeno se estendeu foi de 21 horas, mas, segundo o professor Gervásio, já houve ventos que seguiram intermitentes por 100 horas seguidas;
  • Em um ano,  ocorrem de seis a sete episódios de vento norte. A intensidade pode variar a depender das condições climáticas de cada dia.
  • O fenômeno ocorre com maior frequência no inverno, e também é mais fácil de ser identificado neste período.

Expediente:

Reportagem: Isadora Pellegrini, acadêmica de Jornalismo e bolsista; e Tayline Alves Manganelli, acadêmica de Jornalismo e voluntária;

Design gráfico: Noam Wurzel, acadêmico de Desenho Industrial e bolsista;

Mídia social: Eloíze Moraes, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Rebeca Kroll, acadêmica de Jornalismo e bolsista; Ana Carolina Cipriani, acadêmica de Produção Editorial e bolsista; Alice dos Santos, acadêmica de Jornalismo e voluntária; e Gustavo Salin Nuh, acadêmico de Jornalismo e voluntário;

Edição de Produção: Samara Wobeto, acadêmica de Jornalismo e bolsista;

Edição geral: Luciane Treulieb e Maurício Dias, jornalistas.

UFSM – Revista Arco

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