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Notícias

11 de abril de 2016

Custo supera alta do rendimento nas lavouras

O clima ajudou no desenvolvimento da safra de verão e o tempo bom para a colheita também está colaborando. As colheitadeiras trabalham até tarde da noite, enquanto a umidade do ar permite. Com rendimento médio acima de 70 sacas por hectares, os produtores da região de Não-Me-Toque até comemoram o resultado das lavouras, mas o cálculo mostra que o crescimento da produtividade foi menor do que o crescimento dos custos nesta safra.

Maurício Backes, 44 anos, conhece a lida do campo desde que nasceu. Apesar de morar na cidade, nunca tirou o pé da lavoura. Faz sozinho o planejamento, a execução do plantio e a colheita em seus 260 hectares de terras, parte herdada de seu pai e outra conquistada com seu próprio trabalho. Nos últimos dias concluiu a colheita na área em Bom Sucesso (Não-Me-Toque) e, sempre que o tempo está bom, permanece na sede da granja, em Linha Guaiana (Lagoa dos Três Cantos), para concluir o trabalho. A esposa Ieda se ocupa das refeições e faz a parte burocrática da lavoura.
A lavoura, bem cuidada, sofreu com a estiagem de 17 dias no mês de janeiro, bem no período de floração e enchimento de grão, e mesmo assim Maurício alcançou uma média de 75 sacas de soja por hectares.
- Tivemos que controlar a ferrugem durante todo o ciclo. Foram quatro aplicações de fungicidas em uma área e cinco na outra, o mesmo do ano passado – comenta o produtor.

Para controlar a doença que tem sido uma grande ameaça à produtividade, Maurício segue rigorosamente a orientação técnica. Tem certeza que não perdeu nada para a ferrugem:
- Entrando com o defensivo nas épocas certas não tive problema com a ferrugem. Neste ano a pressão das doenças foi maior, devido às condições climáticas favoráveis.
Os fungicidas têm poder residual de 15 dias, sendo que a ferrugem tem a capacidade de derrubar as folhas da soja em poucos dias se não estiver tratada. Em anos anteriores, quando não fez tantas aplicações, Maurício disse que teve rendimentos menores.
- Gastando menos com fungicida também colhi menos. Anos atrás se aplicava fungicida uma ou duas vezes, e o rendimento era de 40 sacas por hectares. Hoje pode ser necessário até seis aplicações, mas a produtividade pode superar aos 80 sacos. Entendo que é um valor agregado, tu vais investindo e tendo retorno – afirma.

Maquinas foram para lavoura para colheita da soja
Máquinas foram para lavoura para colheita da soja

Seguro da safra
A grande preocupação dos produtores atualmente é com a frustração de uma safra, considerando que o custo de produção está muito alto. Os prejuízos em caso de frustração são uma temeridade quando o produtor plantou com recursos próprios.
O seguro para as lavouras, uma grande preocupação da classe, chegou a ser tema de audiência pública do Senado na Expodireto Cotrijal deste ano. O Proagro, que cobre apenas 70% do investimento, ainda é o melhor seguro para o agricultor, segundo Maurício Backes, porque cobre a qualidade. Já o seguro privado é muito alto e não cobre a qualidade, no caso do trigo e da cevada.

Menos milho

Maurício Backes aproveitou o clima seco dos últimos dias para colher
Maurício Backes aproveitou o clima seco dos últimos dias para colher

Em 2014 Maurício Backes disse que plantou uma pequena área de milho. Em 2015 não plantou e pretende manter essa decisão na safra 2016-2017, em função do preço e do risco de estiagem.
- Em cinco anos esse será o primeiro que o milho vai render mais dinheiro do que a soja. Além de ser uma cultura exigente em fertilizantes e químicos, o milho é muito mais suscetível à falta de chuva e o risco de perda da produção é muito mais alto do que a soja.
Safra de inverno
A falta de lucratividade das lavouras de inverno é uma constante no Rio Grande do Sul. Mesmo assim, os agricultores não deixam de plantar. Maurício Backes distribuiu trigo, cevada e aveia sobre suas terras na safra passada.
- Planto trigo não pelo lucro. Planto pela adubação e pela palhada que sobra para a cultura de verão. É um investimento antecipado – afirma.
Na expectativa de colher bons resultados, sempre plantou trigo com investimentos em tecnologia, empregando boas sementes, tratamentos e adubação. Para este ano, ainda não decidiu, mas está inclinado a manter os investimentos na cultura de inverno.
- A princípio penso que se vou fazer deve ser bem feito.
O produtor observa que o investimento para uma lavoura de trigo bem feita é praticamente o mesmo da soja, para de uma expectativa de colheita de 70 sacas por hectares em safra cheia, e preços ínfimos se comparados ao custo de produção. No momento o trigo está cotado na faixa de R$ 30,00 a saca de 60kg, valor que não oferece lucratividade. E quando a safra está colhida, ainda tem o problema da comercialização.

Defasagem
Em 2002 Maurício comprou um caminhão gastando 970 sacas de soja, na época cotada em R$ 48,00. Passados 14 anos, o caminhão está avaliado em R$ 70 mil, o equivalente a 1.000 sacas de soja.
- Isso prova o quanto o valor da soja está desvalorizado perante o custo dos demais produtos. Para quem não conhece os custos de produção pode parecer que o preço da soja hoje é bom, quando na verdade nós agricultores evoluímos em produtividade, mas não estamos tendo retorno na mesma proporção.
O produtor constata que os investimentos para aumentar a produtividade não alcançaram retorno se comparado com o aumento dos custos.
- Minha estimativa de custo hoje é 50 sacas por hectares, contando todos os custos correlacionados. Em 14 anos o preço da soja aumento cerca de 30% enquanto que o custo da lavoura deve ter aumentado mais do que 200% neste período – observa.
De acordo com dados da Farsul, só na safra de 2016, a alta dos fertilizantes foi de até 44%; o preço dos agroquímicos subiu 19%; os juros sobre o capital de terceiros, 47%; e o diesel subiu 13%. Pelos cálculos da Federação, o custo operacional da soja nesta safra atingirá R$ 48,23, alta de 17%, e o custo total chega a R$ 72,52 no pior dos resultados obtidos em toda a história.

Investimento em máquinas
Neste ano Maurício Backes investiu na renovação da plantadeira, que já estava defasada. O agricultor entende que plantar é garantia de boa safra. Se a planta nascer bem é 50% de safra garantida, o restante vai depender do manejo e do clima.
- Se a semente não nascer, não dá para remendar. Pra começar precisamos de boa semente e de um bom plantio – finaliza.

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