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Foto: Polícia Civil.

14 de maio de 2021

EXCLUSIVO | Caso Nélia Lúcia Hoff: O misterioso desaparecimento volta a ser investigado pela Polícia Civil de Não-Me-Toque e ganha novos desdobramentos

Por Roger Amaral

Para iniciarmos esta nossa reportagem, precisamos fazer uma viagem no tempo e retornar até a época em que ocorreu o desaparecimento da lavadora de carros.

Era 2009, quando a moradora de Não-Me-Toque, Nélia Lúcia Hoff, na época com 44 anos, grávida de sete meses, desapareceu misteriosamente na noite de 13 de abril. Inicialmente, a única pista era que Nélia, horas antes de sumir, havia recebido telefonemas de alguém até então desconhecido. Ela questionou a pessoa que estava do outro lado da linha sobre valores. Se o interlocutor já estaria com o dinheiro.

Nélia Lúcia Hoff.

No momento da ligação ela estava na casa da irmã, uma das principais testemunhas do caso de desaparecimento. Após isso, Nélia, retornou à sua casa, tomou banho, arrumou-se, despediu-se dos filhos por volta das 21 horas e saiu. Após, nunca mais foi vista. Nélia, morava com os filhos, um menino e uma menina, na ocasião com idade de 9 e 11 anos.

O desaparecimento só foi notado porque os filhos, após esperarem durante angustiantes horas, procuraram a tia, que tentou inúmeras vezes contato pelo celular da irmã, porém não conseguiu, procurou a polícia e informou que Nélia havia sumido.

Do ano do desaparecimento, até 2018, quando o caso se deu por encerrado, sem ao menos encontrar uma resposta sobre o paradeiro da mulher ou de seu corpo, muitos episódios foram registrados e muitas investigações e procuras foram feitas. Dentre os acontecimentos marcantes, a revolta dos irmãos e familiares por falta de informações chamou a atenção.

Em 2013, os irmãos protestaram em frente à Delegacia local pedindo por atenção das autoridades. Um dos irmãos se acorrentou durante um dia em uma árvore localizada em frente ao prédio da Polícia Civil, os outros passaram o dia com cartazes pedindo por respostas e justiça, pois já haviam passados 4 anos do sumiço.

Foto: Arquivo/A Folha.

A versão da polícia, após várias investigações, dava conta que devido ao desespero dos familiares, que levaram várias informações nos depoimentos, e a corrida para todos os lados na tentativa de encontrar Nélia, dificultaram o trabalho de busca, mas que, em nenhum momento, o caso havia sido esquecido ou arquivado.

Na passagem dos quatro anos do desaparecimento, por duas ocasiões, o delegado titular da época em Não-Me-Toque, Arlindo Círio da Cunha, registrou possibilidades de encontrar Nélia Hoff. A primeira oportunidade foi em Passo Fundo, quando três pessoas que estavam no Hospital São Vicente de Paulo suspeitaram ter visto uma mulher que poderia ser Nélia. Na checagem, a informação não foi confirmada pela polícia. Em 2012, em meados de agosto, foi encontrada uma página no Facebook com o nome de Nélia Hoff. As apurações não obtiveram sucesso.

Passaram-se cerca de seis anos, quando o atual delegado, Gerri Adriani Mendes, em 2018 recebeu a filha de Nélia, que questionou a atuação das autoridades no que dizia respeito à investigação sobre o paradeiro de sua mãe. O inquérito estava parado, sem mais diligências. No mesmo ano, a polícia anunciou que por falta de provas contundentes o caso estaria sendo encerrado e remetido ao judiciário.

Tempos depois, quando o caso nem era mais lembrado pela comunidade, misteriosamente, uma carta anônima surge e é entregue aos familiares de Nélia. Intrigados com o conteúdo do papel escrito em máquina de escrever, seguiram por conta própria as pistas ali contidas e cavaram um poço desativado cerca de 10 metros. Assim, em 2019, acabaram novamente procurando a polícia. Era o início de um novo ciclo da incansável busca pelo paradeiro da mulher que, naquele ano, já completava uma década de seu misterioso sumiço.

O papel revelador continha informações que até então nem mesmo as investigações do passado haviam levantado, como a possível motivação do desaparecimento, seguido de revelações que vamos trazer à tona com exclusividade aos caros leitores.

O que era uma suspeita quase se aproximou da confirmação. Nélia, teria sido supostamente assassinada. O que é mais impactante nisso tudo, é que o autor seria o pai do filho que ela carregava no ventre, até então desconhecido. Segundo a carta, ela foi morta justamente pela gravidez indesejada. Por se tratar de uma investigação e pela ética, decidimos não revelar o nome do possível autor do crime.

Ainda, o teor da carta revela que, após Nélia ter sido morta, seu corpo foi jogado dentro um poço na localidade de Mantiqueira, interior do município de Não-Me-Toque, próximo a um antigo salão de bailes da comunidade.

Com as novas informações e, na tentativa de assegurar a autenticidade da carta, a polícia, por iniciativa de seu departamento de investigações, abriu novas oitivas até chegar em uma testemunha, um amigo do suposto autor do crime. Ele afirmou, em depoimento, que no ano do desaparecimento, em conversa, o amigo revelou estar sendo chantageado pela vítima, justamente pela gravidez fora do casamento, e temia o que poderia acontecer em sua família. O fato indicou para a polícia a veracidade da carta. No entanto, o suspeito não pode ser ouvido, pois no ano de 2012 havia se suicidado.

ESCAVAÇÕES

Foto: Polícia Civil.

No início de 2021, a Polícia Civil foi até o local apontado pela carta anônima, onde estaria o referido poço e constatou que seria necessário realizar um minucioso trabalho de escavação. Foi então solicitado à Administração Municipal que cedesse o maquinário e funcionários da secretaria de Obras para realizar a escavação.

No dia 28 de março de 2021, máquinas, policiais e funcionários da prefeitura, em um sigiloso e árduo trabalho, iniciaram os trabalhos que duraram cerca de duas semanas e, até mesmo, colocou a vida dos envolvidos em risco após alguns desmoronamentos de terra.

Foram perfurados 15 metros poço a dentro. Retirando do local uma verdadeira montanha de terra, misturada com lixo e resíduos que haviam sido depositados no poço.

Incansáveis, os investigadores da polícia chamaram reforço. Foi solicitado ao Corpo de Bombeiros Militar de Carazinho que auxiliasse na escavação. Os militares escavaram mais 3 metros e concluíram que seria muito arriscado continuar o trabalho pelo risco de desmoronamento de terra, sendo que ainda restavam mais 7 metros até chegar, literalmente, ao fundo do poço.

Determinados, os familiares de Nélia, continuaram a arriscada escavação por conta própria, até chegarem ao fundo do poço. Foram mais alguns dias de escavação e risco. Porém, nada foi encontrado na profundeza de 25 metros, frustrando assim a expectativa de localizar, ao menos, restos do corpo da mulher desaparecida.

No dia 13 de abril, completaram exatos 12 anos do desaparecimento de Nélia Lúcia Hoff, que hoje estaria com 56 anos.

No momento, não existem mais probabilidades, hipóteses, informações ou algo que possa sanar as dúvidas que todos têm sobre o que aconteceu com Nélia. Ficam mais de 170 páginas de um inquérito policial inconcluso, muitas incertezas e a dor e a saudade de amigos e familiares.

Somente um fato novo pode vir a contribuir para o desfecho deste mistério. A Polícia Civil não tem a confirmação do homicídio e o caso ainda é tratado apenas como desaparecimento.

Para encerrar, trecho retirado da carta anônima:

“Antes uma triste verdade, que uma eterna dúvida”.

 —  Assinado: O(a) Justiceiro(a).

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