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Notícias

3 de dezembro de 2021

Projeto Aquarelas da Vida apresenta a obra de Heloisa Paim

A partir do dia 10 de dezembro, quem visitar o Lar do Idoso São Vicente de Paulo terá a oportunidade de admirar obras de arte. São peças doadas por artistas para o projeto “Aquarelas de Vida”, iniciativa da artista Heloisa Paim, cuja obra conheceremos a seguir. Ela convidou outros artistas que também doaram uma peça de seu acervo para embelezar e alegrar o Lar do Idoso. As obras serão apresentadas em live para a comunidade e fixadas nos diversos ambientes da instituição.

De 4 a 10 de dezembro, a diretoria do Lar do Idoso realiza a “Semana O Lar Agradece”, com diversos eventos que buscam manifestar para a comunidade o quanto a contribuição de cada pessoa é significativo para a manutenção e existência desta instituição.

Heloisa Paim e o “Morador de Rua”

Alguns anos atrás, Heloisa relata que estava deixando seu atelier de arte, no Centro de Porto Alegre, carregando algumas telas. Enquanto se dirigia para pegar uma lotação, foi abordada por um morador de rua. No meio de seus pertences tinha cartazes pedindo ração para sua cadelinha, e todo o seu "lar" cabia num carrinho de supermercado.

A senhora é artista? Pinta telas?

Sim, sou artista e pinto.

Qual o estilo que a senhora pinta? Abstrato, figurativo?

Heloisa lembra que sorriu, num misto de surpresa e um certo nervosismo, por receio do desconhecido, e respondeu:

Eu pinto vários estilos diferentes, acadêmico, impressionismo ao modernismo...

Estes que a senhora carrega são figurativos ou abstratos?

Figurativos.

Posso ver?

Nervosa, já olhava para os lados, com medo de ser assaltada. Mas mostrou as telas. Foi quando ele pediu:

Poderia pintar eu e ela? Pediu o homem, referindo-se à sua companheirinha de quatro patas.

Sim, poderia. Mas, infelizmente estou sem celular aqui pra tirar uma foto de vocês. Outro dia, quando voltar para o atelier eu tiro, tá? — respondeu a artista, mentindo por medo.

Tudo bem, combinado. Só tem uma coisa, não vou poder pagar, somos pobres. Sou morador de rua... você sabe, né? Não tenho como lhe pagar.

Heloisa lembra ter saído quase sem me despedir, apressada.

Naquela noite quase não dormiu, pensando "neles"... Onde estariam, onde dormiriam? Quem seria aquele rapaz que a surpreendera pelo gosto e pelo conhecimento de arte. Por que estaria naquelas condições? Enfim, estas e outras perguntas não saíam da sua cabeça. Mas o pior era o sentimento de vergonha por ter pensado o pior do rapaz e não ter tido coragem de ter tirado uma foto. Imaginava como ficaria lindo, com sua incrível amorosidade. Que mundo é este que vivemos? Onde uns tem tanto, e outros quase nada? Onde ofendemos ou fugimos dos mais frágeis e sem as mínimas condições porque sentimos medo e insegurança?

Chorou ao tomar consciência desta realidade. Na semana seguinte, decidiu procura-los pra fazer as fotos. Não os encontrou, perguntou numa banca de revistas e soube que são itinerantes, percorrem as ruas de Porto Alegre, sem destino. Nunca mais o viu, mas também não saiu da sua cabeça.

Passaram-se meses, até que um dia, como um milagre, na capa do jornal viu a foto do  Morador de Rua com sua Companheirinha.

Não queria acreditar no que eu via: era a foto que eu não tirei. Estavam ali, ilustrando uma reportagem sobre moradores de rua de Porto Alegre. Chorei de emoção — relata.

Heloisa guardou a relíquia e pintou o tão sonhado quadro. Depois, procurei ONGs para doar buscando ajudar na causa, mas nunca obteve resposta. Procurou o jornal e o fotógrafo para relatar a história, não houve interesse.

Finalmente eu sei que esta obra ficará num lugar muito especial, no lar do idoso da minha cidade, Não-Me-Toque, onde iniciei minha carreira. Onde o amor, a solidariedade, a entrega, o voluntariado, a bondade ainda existem. Estou muito feliz em participar deste projeto e entregar esta obra com a história de um ser humano anônimo que nos faz refletir sobre a vida, a humildade e o amor — finaliza.

HELOISA PAIM

Heloíisa Paim e Loraine Becker do Lar do Idoso

Professora de Educação Artística, formada pela UPF. Trabalhou como professora em escolas durante 32 anos. Trabalhou com atelier de Arte em Não-Me-Toque, Estrela e Porto Alegre.

Realizou exposições individuais nestas cidades. Em Porto Alegre foi convidada para três exposições na Sogipa, sendo que um quadro da série "Autóctone", ganhou destaque nacional por meio da editora Moderna, que a editou em livros didáticos. Também foi convidada a expor no saguão da Câmara de Vereadores de Porto Alegre.

Atualmente, aposentada, só desenha e pinta por hobby e paixão por técnicas e novas descobertas.

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