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Notícias

Foto: Divulgação

30 de março de 2022

Força feminina

Zada nasceu com o sol em elevação. Ordenou a si mesma  saborear o prazer de estar viva. Época em que a autonomia nos convida a nos salvar por nós mesmos, e todos aceitavam que ela se desenvolvesse assim, mas nem todos tinham força suficiente para acompanhá-la.

Muito chão foi retirado debaixo dos seus pés.

Quando surgiram seus primeiros raios de mulher, Zada já se habituara a andar pelas trilhas da vida, porém nenhuma delas a tolhera de se sair bem.

A arte de amá-la e acompanhá-la, ela sabia, estava reservada a um homem com profundidade.

Hoje, as esposas não têm mais muito tempo. Compram  alimento, carro e morada com seu trabalho. Os homens são companheiros de vida.

Era hora de seguir em frente e realizar seu maior desejo: ser mãe! O que tudo e todos diziam ser impossível.

Tomada a decisão, a confiança brotou como água das entranhas da terra, e lavou os pensamentos sombrios com um jorro translúcido.

Ubá, seu companheiro, disse sim, mas depois resvalou, caiu, levantou-se e seguiu ao seu lado.

A bebê nasceu prematura e foi para o CTI neonatal, ao mesmo tempo em que Zada foi para um CTI da maternidade onde lutou para manter o corpo e a alma reunidos. Ele sentou-se ao lado da filha, olhando-a, jurou ouvir um estampido em seu peito, e permitiu desaguar pelos olhos o desamparo acumulado em seu desenvolvimento.

Acordou da sua modorra masculina e germinou o pai nutritivo. Com a mente vazia e um sorriso oco, sua mão se movimentou em direção à filha e, ao tocá-la, ela fez um movimento que envolveu seu dedo. Era tudo o que cabia na pequenina mão cheia de ossos transparecendo. Fechou-a, acolhendo-o, isso o conquistou para sempre.

Jade, nascida com sete meses de gestação, sem forças, soube simbolizar:

- Papai, fica comigo!

E ele entendeu! Lágrimas brotaram de seus olhos como uma cesura que rompe de dentro da terra. Aí nasceu um pai.

Atrás dele, discretamente, a equipe de plantão testemunhou e deixou rolar profunda emoção.

Para Zada, os dias no CTI são um limbo emocional. Vazios que aparecem, fazendo desdobramentos, com narrativa autônoma. Até o momento em que chega o caçador, que faz a reparação no sofrimento de Chapeuzinho Vermelho e sua avó: quando ela recupera a saúde e vence.

Dois meses passaram no hospital. A mãe começou a jorrar o leite, a nutridora do sentir, do pensar e do sonhar novas narrativas. O pai, dava costas quentes. O banho tornou-se a atividade preferida dele, pois foram essas as mãos que abriram o caminho para ser quem ele é hoje.

Dia abençoado em que Jade, nos braços e coração quente dos pais, foi para seu ninho em casa, e chegou!

Agora sim, Zada está segura, terá uma vida plena, sabe que, quando morrer, deixará alguém atrás de si, quem se referirá a ela como mãe.

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