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Notícias

15 de julho de 2022

Cai número de produtores de leite

Conforme a inflação aumenta, o custo de vida da população fica mais difícil. E o item da vez que está salgando essa conta é o leite. Os valores no mercado na data desta reportagem (12/7) chegaram uma marca mediana de R$ 7,29. No dia 24 de maio, a mesma marca custava R$ 4,68.  No ano de 2021, no início de janeiro o preço unitário era de R$ 3,37.

Mas esse preço é composto por muitas variantes que vão do produtor até o custo nas prateleiras. Alan Issa Rahman, gerente de Produção Animal da Cotrijal, explica que a composição dos preços que vemos na prateleira já é uma prospecção do que será repassado aos produtores.

— Digamos, o preço na prateleira está R$ 8. A indústria já está precificando o leite com o valor que ela irá pagar o produtor em 15 de agosto. O produtor recebeu em julho entre R$ 2,40 os menores até R$ 2,60 os maiores— explica Alan.

Menos produtores mais custos

Segundo uma estimativa da Emater, no ano de 2017 o município de Não-Me-Toque contava com 132 produtores de leite. Em 2021 esse número caiu para 80 e a expectativa é que a redução seja ainda maior neste ano.

Sem sucessão e com baixos valores Luis Carlos deixou a produção de leite

Luís Carlos Schuster, é proprietário do Sítio Raiar do Sol. Uma propriedade com mais de 40 anos de tradição na produção de leite e que recentemente mudou o ramo para a produção de gado de corte.

— Segundo me passou o Departamento Veterinário da Cotrijal, hoje tem 60 produtores na carteira de Não-Me-Toque. Comecei uma lista de produtores que abandonaram a produção, cheguei a 105 que eu conheço, sendo que no auge nos anos 1980 havia mais de 300 produtores.

Schuster afirmou que, quando assumiu a produção de leite, os valores pago ao produtor traziam mais rentabilidade.

— Entre os anos 80 e 90, o valor pago por um litro de leite equivalia a um litro de diesel— recorda.

Mas essa conta hoje está bem diferente. Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Maiquel Jungues, está sendo pago até R$ 2,70 por litro. Mas os custos de manutenção de uma propriedade  e nem sempre esses valores cobrem os gastos.

—Um dos insumos mais caros é o farelo de soja, que subiu de R$ 70 para mais de R$ 200, e o milho foi outro que foi de R$ 40 para R$ 80. Isso encareceu muito o custo de produção e o preço do leite não conseguiu acompanhar—, reitera Junges.

Os custos também levam em conta os fertilizantes e o combustível utilizados para o custeio das pastagens, insumos que também sofreram forte alta nos últimos meses.

Outro fator preponderante para o aumento dos custos de produção leiteira foi a estiagem. Pecuaristas de leite produzem grande parte dos alimentos para os animais na propriedade. Na última safra, a quantidade foi extremamente baixa e com potencial energético ainda menor. Consequentemente foi necessário aumentar a compra de ração, que possui um custo maior.

Com os preços já mencionados da base alimentar das vacas, a busca por alternativas é extremamente complicada, pois alterações podem baixar o potencial de volume produzido. As substituições, por exemplo, por trigo atualmente não são viáveis devido ao preço da saca.

Produção sem sucessão

Um dos fatores da redução no número de produtores de leite está na ausência de sucessão. Luís Carlos Schuster está nessa estimativa, ele constatou que os filhos não tinham interesse em seguir na área. A situação, aliada à queda da rentabilidade, forçou sua opção por encerrar a leitaria.

Esse fator não é exclusividade não-me-toquense, mas de todo o país. Dados da Emater indicam uma redução ainda mais drástica em outros estados. Alan Issa Rahman, da Cotrijal, relata que esse desestimulo pesa nas decisões.

—Podemos falar de 2015 para cá. Um dos principais motivos dos jovens não ficarem no campo é que a atividade não remunera adequadamente. Como manter um jovem ali se não há escala?—, questiona

A atividade leiteira é extremante onerosa, para um maior rendimento financeiro é necessário ter produção em escala. Quanto mais animais, mais tempo de demanda de trabalho.

Alan ressalta que a situação não é nova

—Quanto menor o produtor, menor a margem líquida. Um produtor que tira 100 mil litros por mês tem condição de manter um empregado porque tem volume. Já quem tira 30 mil litros não, então quem tem que tocar são os proprietários. Quando o filho entra no negócio precisa aumentar o volume de produção— reitera Alan.

Quando não há possibilidade desse aumento, ocorre o desestímulo dos produtores, a consequente saída desses jovens da pecuária leiteira e a inserção deles no mercado de trabalho, em busca da carga horária definida, tempo de folga entre outras vantagens.

É importante ressaltar que esta situação não é nova, nem ao menos recente. A queda no número de produtores, a migração de áreas vem acontecendo há alguns anos. Mas é devido aos valores praticados no preço do leite, que a situação chamou a atenção da sociedade.

A bacia leiteira é um setor de tamanha complexidade que uma lauda de jornal não é suficiente para explicar. Por isso, as entrevistas completas com o produtor Luís Carlos Schuster você encontra nas nossas redes sociais, já no player abaixo você confere a integra do gerente de produção animal Alan Issa Rahman.


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