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Notícias

29 de outubro de 2022

Lenha para a fogueira

Eram meados de abril e os dias fresquinhos já caracterizavam o outono daquele ano. Sempre gostei das estações mais brandas, com as temperaturas mais agradáveis. Esta estação me lembrava a minha intenção quando plantamos as árvores da frente de casa. Eu desejava ver o outono chegando através das folhas dos plátanos, que adquiriam todas as tonalidades quentes até cair e forrar o chão. Hoje, elas estavam gigantes e todo outono acontecia o mesmo espetáculo. Nunca cansei de admirar.

Certo dia, ao acordar e sair até a área, vi minha vizinha atarefada com uma vassoura e sacolas recolhendo as folhas que caíam no seu pátio. Quando me viu ela disse: - Essas folhas me dão trabalho, só servem pra sujar o chão. Respondi que não era sujeira, elas eram lindas. A senhora deu de ombros e continuou sua tarefa amargurada.

Olhei para as árvores e as folhas, senti o vento fresquinho e naquele momento entendi que o significado daquilo tudo me pertencia. A beleza daquilo tudo também não se revelava a todos. O mundo só existe a partir da capacidade de cada um de desvendá-lo.

Aquelas árvores são -para mim- uma obra de arte da natureza. Sua resignação frente às estações do ano nos convida a aceitar os ciclos da vida, nos mostra que depois de todo inverno retorna a primavera, da mesma forma, que depois de todo momento triste, surgem novos motivos para sorrir. O outono é a estação da aceitação, da coragem e do desprendimento. O inverno é a estação da força. Com a primavera vem a esperança e o verão evidencia nossa magnitude.

Estive tão envolvida com meus pensamentos que não percebi minha vizinha terminar a sua tarefa de ensacolar as folhas. Ela não conseguia enxergar o que eu enxergava. Talvez, se fosse ainda uma criança, experimentaria deitar e rolar nas folhas macias.

Naquele momento lembrei de uma frase de Tolstói: “Há quem caminhe por um bosque e veja apenas lenha para a fogueira.”

Tolstói é um escritor russo que quis trazer à tona com esta frase uma característica humana: A busca pela utilidade.

Muitas vezes quando não conseguimos identificar de imediato o valor de algo, atribuímos a este a característica de descartável. Quanto menor a nossa sensibilidade se torna, mais atribuímos função e valor a tudo. Quando não é útil é inútil, e assim passamos a tratar tudo e todos.

Desejo que seja mantida a nossa sensibilidade para que possamos enxergar o milagre que existe em toda parte. O mundo se revela a nós através dos nossos sentidos, não deixe que a sua casca fique tão grossa que te impeça de sentir, de ouvir e de enxergar a magia que se revela a todo momento.

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