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Notícias

25 de novembro de 2022

Um vazio que precisa ser preenchido

Por Bruna de Souza

Estava chegando a época do Natal e eu percebi que estava mais uma vez dentro de uma loja. São tantos os preparativos para as festividades. Planejar a ceia, pensar nos presentes, iluminar a casa, organizar a bagunça e limpar tudo do forro ao chão, sem esquecer dos armários. Que roupa vou usar? Em meio a esses pensamentos típicos da classe média, percebi quantos itens eu estava comprando, mais uma vez.

Às vezes, parecia que as redes sociais direcionavam todos os anúncios para mim, que sabiam o que eu precisava antes mesmo que eu soubesse. A propaganda dos eletrodomésticos na televisão era incisiva, eu olhava para velha máquina de lavar e simulava mentalmente as parcelas necessárias para adquirir uma nova (não que ela não estivesse exercendo a sua função, mas deixava a lavanderia com uma cara de ultrapassada). Confesso que é nessa época do ano que surgem mais insatisfações, nessa época eu sentia mais ansiedade porque parecia que o tempo era curto e o dinheiro também.

Quando saí da loja carregada de sacolas encontrei uma criança sujinha, com olhar inocente, que ao me ver pediu algumas moedas. Eu estava com pressa, a fila da loja tinha me deixado estressada e também atrasada para a aula de pilates das quintas. Eu não tinha moedas, eu estava só com o meu celular, havia pago as compras com pix. Respondi à criança que outro dia eu daria moedas, mas que hoje eu não tinha.

O dia passou de acordo com o esperado e, quando chegou a noite, depois de sair do banho, a veio a velha sensação: insatisfação.

Eu tinha tantos motivos para agradecer que me sentia ingrata perante a vida. Muitas vezes quando esse sentimento chegava, eu pensava em tudo o que tinha para agradecer e deixava pra lá. Mais uma vez aconteceu. Sentei no sofá da sala e, automaticamente, peguei meu celular e abri as redes sociais. Durante um bom tempo eu fiquei observando, analisando e opinando na vida alheia. Quando vi já era hora de ir pra cama.

Quando deitei, percebi que a minha insatisfação havia dobrado de tamanho, minha mente estava com um barulho ensurdecedor. Alternava pensamentos de crítica à vida alheia, as contas para pagar, aos planos do dia seguinte e o que ainda tinha que comprar.

Foi então que percebi que algo estava errado. Por que esses sentimentos pioravam com a chegada do fim do ano? Decidi fazer uma oração, uma meditação. Decidi clamar pelo preenchimento desse vazio. Acalmei a minha mente e agradeci profundamente. Quando o barulho cessou, eu lembrei daquela criança na porta da loja. Não foi intencional, a imagem dela simplesmente surgiu. Orei por ela também e adormeci.

No dia seguinte, acordei decidida. Eu não iria contaminar meu espírito para que aquela sensação voltasse. Peguei um bloco de notas e comecei a escrever um agradecimento ao universo, não abri as redes sociais e nem coloquei meus pés dentro de qualquer estabelecimento comercial.

No final da tarde fui ao encontro daquela criança que tinha me pedido moedas. Fui até ela com o intuito de conhecê-la. Sentei com ela em um murinho na calçada e ali conversamos. Compreendi de qual maneira que eu seria mais útil na vida dela. Fizemos um acordo e terminamos com um abraço. “Por coincidência”, naquela noite a sensação de vazio não veio me visitar e eu dormi com uma mente muita mais silenciosa.

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