4 de dezembro de 2022

A vovó veio voando

Por Kerlei Frizzo

Li uma reportagem que chamou minha atenção: “Uma idosa procura uma família para passar o Natal. Solitária, ela afirmou que não tinha ninguém e isto lhe causava dor”.

Esta semana, durante a realização de uma ação Voluntária que desenvolvo no Lar do Idoso, vivenciei experiências que transcendem. Ativação da memória, trabalho em equipe, desenvolvimento da linguagem, coordenação motora, motivação e flexibilidade cognitiva, organização executiva do cérebro, socialização são alguns dos elementos essenciais para o desenvolvimento e que são trabalhados pela Psicologia do Desenvolvimento, área da Ciências da Saúde e do Bem-Estar que estuda os processos cerebrais desde o nascimento até a senescência e visa a promover estratégias de ação para que o ser humano se desenvolva. A atividade da semana foi a elaboração manual de bolachas Natalinas, uma tradição cultural passada de geração em geração e cultivada em muitas cidades do Brasil.

Enquanto eu organizava, no refeitório, as ferramentas necessárias para a produção Natalina, vi uma cena que me fez parar e preencheu-me de um sentimento que a Ciência menciona quando efetivamos um trabalho voluntário: meu cérebro foi inundado com dopamina. Este neurotransmissor, responsável por levar informações do cérebro para várias partes do corpo, atua nos processos cognitivos, aumentando os níveis de memória e atenção e promove a saúde do corpo. É também conhecido como hormônio da felicidade e quando liberada provoca sensação de prazer, satisfação e aumenta a motivação.

Através da porta larga, que divide o refeitório do corredor, visualizei Dona Maria, 102 anos, apoiada firmemente em seu andador e vindo “voando” até mim, com um largo sorriso no rosto para sentar-se e ajudar na produção dos biscoitos. A ausência da linguagem oral foi compreendida por mim pela expressão facial e pela velocidade que ela vinha em minha direção.

O despertar da consciência faz o corpo ser mais ágil e sadio. É a carga de hormônios do bem-estar que impulsiona a nossa mente e nosso corpo. A motivação deveria ser intrinsecamente desenvolvida na infância, mas ela pode também ser extrinsecamente estimulada. Dona Maria e outras vovós e vovôs participaram da atividade com muito entusiasmo, como se fosse, o primeiro trabalho, a primeira vivência, o primeiro Natal.

A socialização é um fator indispensável para o desenvolvimento do cérebro. Ela faz o refinamento da inteligência e nosso cérebro só funciona bem quando nos sentimos parte de um grupo.

A idosa da reportagem que li na rede social não deseja um presente material de Natal. Ela até mencionou que levaria algum para dar se encontrasse alguém que a recebesse. O que ela deseja não diz respeito ao que se pode ver ou comprar. O que ela deseja é invisível aos olhos, assim como todos os que estão no Lar do Idoso desejam. O que eles querem não pode ser comprado, mas pode ser doado! Amor não se compra, se desenvolve e se doa! Quanto mais cedo melhor, nunca é tarde demais!

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