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Notícias

26 de fevereiro de 2023

Duas vidas

Do dia em que nascemos até o dia em que fechamos os olhos para sempre, vivemos duas vidas. Uma é a vida do organismo; a outra, da mente.

Todos os dias o organismo cuida de sobreviver. A mente – ou o cérebro mais precisamente – ajuda a coordenar as operações essenciais para a vida. Dia após dia o coração bate sem descanso, os pulmões respiram sem férias, o digestivo absorve os nutrientes que precisamos, o fígado realiza as transações químicas e os rins eliminam o que não precisamos. A mente fica de olho em tudo.

Mas um dia, algo não dá mais certo. Algum órgão não funciona mais. É um câncer que surge, uma insuficiência que aparece e, quando vemos, estamos para partir. A mente, até então ativa em todos os detalhes, se dá conta que a vida está escorregando por entre os dedos. Ela sabe da doença e ajuda no combate, mas percebe que os tratamentos acabaram. O organismo vai perecer e a mente o acompanhará sabendo de tudo.

Na outra situação, o organismo funciona bem, mas os pinos da mente começam a bater mal. A casa se torna um ambiente estranho e as pessoas da família mais se parecem com transeuntes. A memória não é mais capaz de informar o que aconteceu há poucos minutos, nem como a pessoa deve se preparar para os próximos. Esse pequeno filme de horror responde pelo nome de doença de Alzheimer.

Começa uma peregrinação entre médicos e profissionais de saúde. Os familiares, que acompanharam uma vida cheia de saúde e energia, não entendem onde tudo isso foi parar. Como pode alguém que passou a vida inteira ao lado de uma pessoa vê-la dizer não se lembrar dela?

Normalmente uma série de exames – o que os médicos chamam de investigação clínica – são necessários. Um exame neurológico detalhado, as imagens do cérebro pela ressonância magnética, uma testagem de habilidades neuropsicológicas, o exame do líquido da espinha, uma ressonância por emissão de pósitrons, a lista é longa. Em Não me Toque, dispomos do exame neurológico, dos exames de sangue e da tomografia computadorizada. Na maioria das vezes eles são suficientes.

O organismo segue lutando, mas a mente deixou de ser parceira. Diferente de quando o organismo morre antes, na doença de Alzheimer a mente morre primeiro. Quando o organismo cessar suas atividades, a mente terá partido muito tempo antes.

Uma recente grande novidade nesta área é que longe daqui especialistas estão treinando computadores para estabelecer o diagnóstico da doença. Chama-se este processo de inteligência artificial. Máquinas superpoderosas estão sendo alimentadas com informações dos olhos das pessoas. Nada mais de tomografias e ressonâncias; tira-se uma foto do fundo do olho da pessoa, apresenta-se o resultado para uma máquina e, antes que possamos piscar, ela informa o diagnóstico.

Para aqueles que me leem e que vivem as suas duas vidas correndo dentro de uma só, recomendo celebrarem. Um dia, uma delas se vai. A outra segue depois. Até lá devemos celebrar. Incansavelmente. Todos os dias.

 

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