11 de março de 2023

Amizade instagramável

Por Bruna de Souza

Já era sexta feira e Mariana ainda não tinha planos para o final de semana. Seu tédio demonstrava que ela não era mesmo uma pessoa tão popular quanto imaginava, pois não tinha recebido convite para nada. A menina de 16 anos estudava na mesma escola desde criança, tinha muitos amigos e estava vivendo o período típico da adolescência: descobertas, amigos e frustrações.

Mais uma colherada do brigadeiro de panela e eis que o celular dá o sinal de uma notificação. Susi mandara mensagem convidando-a para dormir na sua casa e maratonar uma série. Oba! Um convite! pensou ela. E de início, Mariana até ficou feliz, mas logo vieram os pensamentos de que aquele programa não renderia bons stories para o seu Instagram.

As meninas da escola tinham uma vida bem ativa nas redes sociais e competiam nas quantidades de curtidas e comentários em suas fotos. Susi não. Ela tinha menos de 500 amigos lá. Então a jovem decidiu recusar o convite da amiga e ir atrás de um evento mais popular e que lhe rendesse mais visibilidade. Se aquele ainda fosse o convite para um posadão com várias amigas exibindo seus pijamas fofos com canecas coloridas, tudo bem, mas isso não tinha nada a ver com a personalidade da colega que a convidara.

Começou então a procura pelo programa perfeito, já fazia duas semanas que o Instagram não via nada interessante vindo dela. “Qual a boa pro fds?” mandou ela e alguns grupos do whats app a deixaram no vácuo. Duas de suas amigas iriam viajar com a família e a terceira não estava com ânimo para nada.

A sexta passou em branco e a madrugada que se expandia na solidão deu a ela a alternativa de escrever seus pensamentos e sentimentos em um velho diário, já empoeirado em cima da prateleira.

“Querido Diário. Sei que não sou sua amiga mais fiel e talvez não seja uma boa amiga para ninguém. Estou aqui sozinha e triste acompanhando os stories de quem é feliz de verdade. Minha colega me convidou para um programa de amigas e eu disse não por que pensei nos outros e não em mim. Qual a relevância de ser alguém popular nas redes sociais e ser deixada no vácuo pelo grupo de “amigos”? Às vezes penso que nada disso faz sentido, talvez eu esteja perdendo a compreensão do que me faz feliz para parecer feliz para as outras pessoas.”

Quando eram 2 horas da manhã a menina adormeceu com os olhos marejados de lágrimas e só voltou a abri-los com o chamado da mãe: Café da manhã na mesa! Vale a pena acordar e ver essa surpresa! Chegando à cozinha, o celular já ganhou sua função: A surpresa era um ninho de cardeais ali no parapeito da janela. Uma cena linda e iluminada pelo sol da manhã. Mas o vídeo não mostrava a sensação de lar por ter a mãe ali naquela manhã e nem era possível compartilhar o cheiro do café fresquinho. Realmente aquela era a cena perfeita, mas era particular, de uma forma que ninguém iria compreender. Melhor aproveitar.

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