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Para pessoas que têm casos graves de alergia, uma única picada da abelha pode desencadear choque anafilático. Esses pacientes costumam ser tratados com anti-histamínicos e anti-inflamatórios. (Foto: Divulgação | Butantan)

20 de março de 2023

Soro contra veneno de abelhas do Butantan está na reta final de ensaios clínicos

Para pessoas que têm casos graves de alergia, uma única picada da abelha pode desencadear choque anafilático. Esses pacientes costumam ser tratados com anti-histamínicos e anti-inflamatórios. (Foto: Divulgação | Butantan)

Um soro contra o envenenamento causado pela picada de abelha africanizada (Apis mellifera), popularmente chamada de “abelha assassina”, desenvolvido pelo Instituto Butantan, Universidade Estadual de São Paulo (UNESP) de Botucatu e Instituto Vital Brazil, deve entrar na fase 3 de ensaios clínicos em 2023. O produto é patenteado e obteve resultados promissores nas fases 1 e 2 dos estudos clínicos, divulgados na revista Frontiers in Immunology. Anualmente, o Brasil registra cerca de 20 mil acidentes com abelhas e 50 óbitos.

Segundo o pesquisador Daniel Pimenta, do Laboratório de Bioquímica do Butantan, um dos detentores da patente, o medicamento é destinado a pessoas que levam múltiplas picadas de abelha – ou seja, recebem uma grande quantidade de veneno. As toxinas podem causar hemorragias, queda de pressão, tontura, náuseas e taquicardia.

—O principal alvo do veneno da abelha é o rim: o paciente pode ter falência renal e morrer. O soro antiapílico age neutralizando o veneno—, explica.

Para pessoas que têm casos graves de alergia, uma única picada de abelha pode desencadear choque anafilático. Esses pacientes costumam ser tratados com anti-histamínicos e anti-inflamatórios. Mas o efeito tóxico do veneno só ocorre a partir de dezenas de picadas, quando o indivíduo é atacado por um enxame. São nesses casos que o soro será aplicado.

O estudo clínico de fase 1 e 2 contou com 20 voluntários adultos, com idade média de 44 anos. O número de picadas variou de sete a 2 mil. Não foi observado nenhum efeito adverso grave e todos os pacientes tiveram melhora. A pesquisa foi conduzida no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da UNESP-Botucatu e no Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Tubarão (SC).

Hoje, os pesquisadores estão desenhando o protocolo da fase 3, que deve durar cinco anos, para submetê-lo à aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Da caracterização do veneno à produção do soro

A ideia de produzir um soro para o envenenamento por abelhas surgiu no Butantan há mais de 10 anos, com Daniel Pimenta e o pós-doutorando Rui Seabra, que hoje é pesquisador do Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (CEVAP) da UNESP de Botucatu. O primeiro passo foi fazer a caracterização bioquímica do veneno para entender a sua composição. Depois, começou-se a pensar na viabilização da produção do soro.

Tradicionalmente, os soros hiperimunes são produzidos em cavalos, a partir da inoculação de uma pequena quantidade de veneno de um animal peçonhento. Depois, ocorre a coleta e purificação do plasma, que contém os anticorpos produzidos pelo equino.

—No entanto, no caso do veneno da abelha, os cavalos podiam ter reação alérgica e choque anafilático. A solução que encontramos para isso foi remover, em laboratório, todas as substâncias alérgenas da toxina—, aponta Daniel.

Foi essa estratégia que tornou possível a produção do soro nos cavalos. Os primeiros lotes foram desenvolvidos na UNESP de Botucatu, e a produção em maiores quantidades foi feita no Instituto Vital Brazil, em Niterói (RJ). Se aprovado pela Anvisa, o soro também poderá ser produzido no Butantan. O objetivo é que o medicamento seja disponibilizado futuramente no Sistema Único de Saúde (SUS), assim como os demais soros hiperimunes produzidos pelo instituto.

A ideia de criação de um soro já dura uma década no instituto

Abelhas africanizadas

As abelhas africanizadas são resultado do cruzamento da abelha-africana (Apis mellifera scutellata) com a espécie europeia A. mellifera ligustica, introduzida na América na década de 1950. O objetivo era criar abelhas adaptadas ao clima tropical para a produção de mel. A principal característica da abelha africanizada é a “agressividade” (comportamento defensivo), além da grande facilidade de formar enxames, alta produtividade e tolerância a doenças.

Devido a essas características, as abelhas africanizadas começaram a substituir as nativas e foram migrando pelo continente, até chegarem aos Estados Unidos nos anos 2000.

—Elas se adaptaram muito bem ao ambiente urbano, o que fez com que a frequência de acidentes aumentasse. Quando elas decidem migrar, vai a colmeia inteira, e elas atacam quem estiver no caminho caso se sintam ameaçadas—, diz Daniel.

As regiões brasileiras com maior incidência de acidentes são o Sul e Nordeste, mas as maiores taxas de letalidade ocorrem no Centro-Oeste e Norte, em zonas com maior dificuldade de acesso a atendimento médico. Segundo informações do Ministério da Saúde, cerca de 100 mil acidentes foram registrados nos últimos cinco anos. A maioria dos casos ocorre de outubro a março, na zona urbana, com homens de 20 a 64 anos, e os óbitos são mais frequentes em pessoas acima dos 40.

Fonte: Instituto Butantan

 

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