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Notícias

9 de abril de 2023

O intruso: parte dois

O cérebro humano possui, modo figurado, três plataformas de trabalho. Na primeira vão as conexões que também encontramos nos répteis; na segunda, as dos primatas; e na terceira, os circuitos responsáveis pela mulher e pelo homem da era digital.

Mas só um pouco: porque temos conexões da era reptiliana e dos grandes macacos das pradarias, se somos modernos, temos iphones e conexão com a internet em tudo que é lugar?

Como diria Sherlock Holmes, a resposta é elementar meus caros watsons – é que precisamos da reação básica de medo. Medo?

Sim, répteis e hominídeos precisavam do medo para sobreviver. A coisa deu muito certo: a evolução garantiu que viéssemos até aqui e ganhássemos uma plataforma de neurônios ultra modernos. Mas as reações essenciais de medo ficaram para o caso de, bem, encontrarmos um camundongo correndo pelo chão de cozinha, fazendo-nos gritar e subir em cadeiras. Medo é primordial. Por mais digitais que sejamos, temos medo de certas coisas.

A cada dia que passa, as memórias do medo são atualizadas. Os circuitos cerebrais ajustam as respostas pré-programadas para sentirmos medo (como ficar paralisado, ou sair correndo, deixar o coração batendo como louco, com o rosto angustiado de pavor) de acordo com os acontecimentos que ocorreram de dia. O cérebro faz isso de noite. De fato, na madrugada.

Certas coisas que, durante o dia, geraram receio, preocupação ou nervosismo são classificadas como “importantes” e colocadas em prateleiras com etiquetas onde está gravado “ativar sem perguntar”.

O problema é que podemos dar de cara com essas prateleiras durante a madrugada. Nessa hora, as estantes escancaram nossos medos. Surge o intruso responsável por nos lembrar coisas que aconteceram anos atrás.

Na madrugada, somos nós e os fantasmas. Medos que achávamos enterrados, que nem deveriam ser relembrados, desfilam vivamente na frente dos nossos olhos ainda meio sonolentos. O coração reage apavorado e o sono se vai para as cucuias.

Não tenho uma fórmula mágica com a qual o leitor possa se proteger. Mas tenho uma sugestão. Não converse com o medo. Não entre no monólogo da madrugada que o levará a sentir culpa e remorso. Não entregue isso a ele. Sei, o conselho não é fácil de ser seguido. Mas é possível. Lide com o intruso sem reconhecer a sua importância. Deixe-o dar o seu recado e o acompanhe pela porta dos fundos. E depois – sim, é preciso um pouco de treino –, volte a dormir.

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