Passo Fundo/RS: Chuva
Carazinho/RS: Tempo nublado
Passo Fundo/RS: Chuva
Carazinho/RS: Tempo nublado

Notícias

24 de junho de 2023

Celular no bolso de trás

一 Vovô, acho que eu iria morrer!

Foi assim que meu neto respondeu quando perguntei o que ele faria caso não tivesse um telefone celular. À época, ele tinha uns 11 anos. Eu perguntei porquê.

Ele me fitou por uns instantes antes de responder. Ele me conhecia e procurava uma resposta que fosse convincente.

一É que com o celular eu posso consultar minhas notas no colégio. Além disso, posso fazer reservas para retirar livros na biblioteca.

Eu sabia que era conversa para boi dormir. O que ele queria de fato era trocar mensagens com a rede de amigos e amigas. O que hoje chamamos de redes sociais. Eu entendi a reação dele porque nós, adultos, praticamente não sobrevivemos sem elas.

O uso de iphones e androides entre os jovens só faz aumentar. E a idade com que eles começam a usá-los é cada vez menor. São assustadoras as horas em que adolescentes estão com os olhos pregados na tela de um celular, polegares cruzando velozmente o teclado.

Pesquisadores começam a pensar que as plataformas sociais se tornaram aditivas. Ou seja, estamos ficando viciados no uso da rede.

No começo deste ano, um importante estudo foi publicado no jornal de pediatria da Associação Americana de Medicina, confirmando que o uso do celular modifica o cérebro dos adolescentes. Essa modificação fez com que aqueles que usam as redes mais intensamente desenvolvam uma sensibilidade incomum para antecipar tanto recompensas como repreensões sociais.

Disse um dos autores: "as descobertas sugerem que a criança que cresce verificando as mídias sociais torna-se hipersensível ao tipo de feedback que seus colegas enviam."

Mas os pesquisadores também enfatizaram que embora essa maior sensibilidade possa promover o uso compulsivo de mídias no futuro, ela também pode refletir uma adaptação que vai permitir que os adolescentes sejam bem sucedidos em um mundo cada vez mais digital.

Por tudo isso, não sou crítico ao uso precoce de informações digitais pelos jovens. Lembro da minha adolescência e de como o mundo foi invadido pelo rock and roll. Não foi só a música: o jeito de vestir, o uso dos cabelos compridos e a nova linguagem fizeram com que ou nos adaptássemos ou ficaríamos para trás. Muitos jovens foram experimentar drogas. É verdade que alguns se tornaram aditos, mas a imensa maioria passou por essa revolução desenvolvendo uma melhor capacidade para enfrentar as modificações sociais que vieram nos anos seguintes.

A digitalização do planeta é inevitável. E os jovens vão precisar dominá-la. Ou ficarão para trás.

Por isso tudo, não critiquei meu neto. Ele veste aquelas calças jeans baixas, com iphone no bolso de trás. Tudo certo, faz parte da geração atual, mas vou permanecer de olho em seu crescimento emocional.

Utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência, de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.
Permitir