Passo Fundo/RS: Tempo nublado
Carazinho/RS: Chuvas esparsas
Passo Fundo/RS: Tempo nublado
Carazinho/RS: Chuvas esparsas

Notícias

Iniciativa busca levar informações da realidade da produção agrícola às novas gerações

7 de julho de 2023

Aulas no campo mostram como são produzidos os alimentos

Estudantes de Escola de Jataí, na Fazenda Bom Sucesso, de Osvino Sandri, aprendem muito sobre o agro, do plantio à colheita, do manejo do solo aos cuidados com a natureza
Por: Lucrécia Sandri - Jornalista

Mesmo sendo o motor da economia do Brasil, o agronegócio – produção agrícola, agroindústria e serviços – há muita desinformação. Preocupado em promover maior conhecimento sobre o cultivo dos alimentos, o produtor Osvino Sandri idealizou o projeto A Escola no Campo, que teve aula inaugural no dia 12 de junho, na sua propriedade, no município de Jataí, Goiás. Os estudantes, com idade média de 13 e 14 anos, acompanhados de duas professoras, foram recebidos pela família Sandri e começaram o dia com o café da manhã, almoço ao meio-dia. O consumo de alimentos saudáveis no restaurante da fazenda fez parte do dia de aprendizado.

Sentados em cadeiras debaixo de uma cobertura de lona, os alunos aprenderam na prática o preparo do solo para o cultivo, a qualidade das sementes, o desenvolvimento das plantas, os cuidados fitossanitários, como o uso de fungos naturais para eliminar doenças e pragas, o uso de insumos para a vegetação sadia e a produção de grãos ou tubérculos de boa qualidade.

A família, os técnicos e colaboradores da Fazenda Bom Sucesso mostraram cada etapa e os ciclos das plantas, do plantio à colheita, bem como os cuidados do meio ambiente, essencial para o equilíbrio do clima e a regularidade das chuvas e do sol que alimentam as plantas. Explicaram aos alunos que o verde das lavouras produz fotossíntese, do mesmo jeito que as matas, contribuindo na purificação do ar, essencial à saúde das pessoas, dos animais e de todos os seres vivos.

—As áreas de mato que se observam nas fazendas, não estão aí só para cumprir a lei, elas protegem os mananciais hídricos, as fontes e os rios—, explicou Osvino.

Estudantes puderam conhecer e entrar na cabine de comando das máquinas

Saga de pioneiro

Contando sua trajetória, Osvino disse que, desde pequeno, trabalhava junto com a família do Levino Sandri, 14 filhos, em Vista Alegre, município de Colorado, no Rio Grande do Sul. De manhã na Escola, de tarde na roça, tudo era feito no braço, não tinha máquinas. A terra arada com bois. Na verga, as sementes.  Na plantação, era preciso matar as formigas e capinar os inços com a enxada. A colheita, feita a mão, era transportada em carroças de bois para os galpões. Na propriedade familiar plantava-se milho, trigo, arroz, feijão, batata, mandioca e outros produtos de consumo. A venda era necessária para a manutenção. Também criavam porcos, galinhas e vacas de leite. Para comer, comprovam só o sal e o açúcar. As roupas dos irmãos maiores eram usadas pelos menores, até acabar. Sapatos, não tinham. Só chinelo de dedo. Tinha uma só bicicleta para todos.

Em 1962, Levino Sandri comprou o primeiro trator e a comunidade toda veio ver a máquina.  Mas ninguém sabia operar. Foram aprendendo na prática.

—Meu pai tinha muitos filhos e pouca terra e lá no Sul era muito cara. Ele faleceu em 1980 e três anos depois mudamos para Goiás seguindo alguns conterrâneos. As terras eram baratas, porém o custo de abrir o Cerrado e corrigir o solo era muito alto—, continua Osvino..

Com a esposa Ivone Dalcin (casados em 1981 em Palmeira das Missões-RS), dois filhos pequenos, Fábio e Aline, e grávida da Cátia, chegaram em Jataí.

Como ninguém tinha condições de começar sozinho, era uma sociedade de seis irmãos. Três abrindo lavouras no Cerrado, no lote comprado e terras arrendadas, e os outros três no Rio Grande dando suporte. A sociedade foi desfeita e sobrou pouco para recomeçar.

—Só a Ivone e eu e as crianças—, prossegue Osvino.

—Foram tempos tão árduos quanto de nossos avós imigrantes, no meio do mato, e de nossos pais, pioneiros que tornaram o Rio Grande “O Celeiro do Brasil”. Foi preciso coragem, fé e o comprometimento de toda a família, para se superar no trabalho e as situações críticas.  Ainda que o agro seja o pilar da economia brasileira, governo nenhum ajudou, sóó taxou. Foram investimentos em terras, máquinas e tecnologia, em meio às incertezas. Vencemos! Mas é preciso se ajustar às crises que se abatem sobre o agro, quer seja na política de preços ou novas pragas, ou eventos climáticos, especialmente por ser um empreendimento a céu aberto.

Nova geração

Cátia Sandri contou aos alunos que ela é administradora e tem muito trabalho no escritório.

—Tanto eu quanto meus pais e irmãos, pegamos junto com os colaboradores nas máquinas, na cozinha, em todas as atividades da fazenda, de sol a sol, especialmente quando apura o serviço da colheita e plantio.

—Qualquer um de vocês poderá vir a trabalhar com a gente, ou ser nosso parceiro, homem ou mulher—, desafiou a jovem.

Hoje, a Agropecuária Sandri tem 25 colaboradores permanentes, além dos safristas e prestadores de serviços. Esta empresa sustenta muitas famílias. A atividade econômica é a produção de alimentos, especialmente milho e soja, duas safras ao ano.

A família do Osvino Sandri tem muito prestígio na região, porque participa ativamente das ações no desenvolvimento de Jataí, sociais e culturais, com destaque ao CTG Nova Querência, onde foi patrão em três gestões, e as filhas e netas dançam nas invernadas artísticas.

Iniciativa busca levar informações da realidade da produção agrícola às novas gerações

Transformação da região

Jataí era uma pequena cidade nos grotões, quando uma leva de gaúchos do Alto Jacuí migrou para o Novo Eldorado brasileiro. Hoje é uma cidade moderna, vibrante, com avanços em todas as áreas: várias universidades, sede de Diocese Católica, e está no coração do agronegócio de Goiás, liderando no milho, leite e soja.

Escola no Campo

Depois do almoço, os alunos subiram nas máquinas e aprenderam o funcionamento das plantadeiras, caçambas, pulverizadores, colheitadeiras, tratores, caminhões, e outras, todas operadas com computadores e tecnologias de ponta. Os alunos aprenderam que a função dos gigantes tanques de água colocados no campo é para apagar incêndios, muito comuns nos meses sazonais sem chuvas.

André Carvalho, voluntário do projeto, foi um dos técnicos palestrantes que mostrou práticas sustentáveis, como o uso de um fungo retirado da natureza, aplicado com pulverizador sobre a lavoura, para controlar uma das pragas que atacam o milho.

—Este é o verdadeiro agronegócio, tecnologia e meio ambiente aliados na produção agrícola. É isso que estamos mostrando para os jovens estudantes—, explicou.

E a última atividade foi plantar mudas de árvores nativas frutíferas. Cada aluno deixou um marco da sua planta na Fazenda Bom Sucesso, para que este projeto A Escola no Campo seja um sucesso.

O dia de escola no campo terminou com o plantio de árvores

Utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência, de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.
Permitir