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Notícias

20 de setembro de 2023

É uma questão de foco

Por: Martin Portner
Escritor - Médico Neurologista

Podemos discutir horas a fio sobre que aptidão seria desejável que uma criança desenvolvesse para que, anos mais tarde, ela ou ele fossem bem sucedidos na vida. Eu vou arriscar meu palpite: precisa ter foco.

Quando vamos ao cinema para assistir a um filme é costumeiro que, antes de iniciar a sessão, uma série de trailers ou de anúncios de produtos sejam exibidos na tela. Na mente humana acontece algo semelhante. Durante o dia, mesmo estando ocupados em nossas atividades, uma série de pensamentos, ideias, enredos costumam passear pela mente sem nem pedir licença.

Como vou fazer para pagar essa conta? Será que seu Medeiros me empresta a bicicleta de tarde? Devo comprar o terreno da esquina? Meu vestido está perfeito para esse evento? E esse tipo de pergunta muitas vezes acaba virando um monólogo interminável. Ideias e auto-conversas parecem não ter fim.

É uma característica do cérebro. As conexões entre os neurônios facilitam o surgimento de novas ideias, assuntos, palpites. Há uma única qualidade capaz de brecar esse fluxo; ela se chama foco. O problema é desenvolvê-lo.

A presença de foco na vida da gente – a decisão de arregaçar as mangas e parar para pensar de verdade sobre determinado assunto ou tarefa – começa a ser desenvolvido ainda na infância. E aqui está o xis da questão.

O foco começa a ser lapidado em sala de aula, por volta dos seis anos de idade. Quando a educadora ou educador insiste para os alunos mantenham seus olhos no quadro-negro e transfiram as informações que ali foram escritas para o caderno de trabalho – algo que eles chamam de copiar e eu, de educação visual-motora – é o berço da capacidade de focar.

Foco é prestar atenção enquanto fazemos algo com as mãos, as pernas ou com o pensamento e, ao mesmo tempo, não deixamos o objetivo sair da frente dos olhos. Não é tarefa fácil. Precisa ser aprendido na infância, desenvolvido na adolescência e utilizado na vida adulta.

Pesquisas mostram que uma em cada dez crianças que vão à escola em Não Me Toque possui um problema específico que a impede de desenvolver o foco escolar. A maioria delas – cerca de duas às vezes três em sala de aula – possuem o que os especialistas chamam de transtorno do déficit de atenção.

Um problema considerável que traz dois prejuízos – além de não desenvolver o foco, que é necessário para a vida toda, essa criança ficará para trás em relação à turma na medida em que não vai assimilar o conteúdo necessário para mudar de ano. Não há solução fácil para isso; pais, educadores e profissionais na área da saúde precisam se dar as mãos para resolver esse problema. Isso porque quando essas crianças chegarem na era da inteligência artificial, que aliás já chegou, ela vai exigir ainda mais foco do que 20 ou 30 anos atrás.

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