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Barco encalhado por causa do baixo nível de água no Rio Solimões, que, juntamente com o Rio Negro, forma o Rio Amazonas (2018) | Foto: Shutterstock

18 de outubro de 2023

Registros apontam estiagem na Amazônia sempre que ocorrem El Niño severo

Cem anos passaram. Ou quase. Em 1926, rios, igarapés e lagos amazônicos baixaram e secaram. Ribeirinhos
caminhavam por rios e lagos onde antes navegavam e pescavam com pirogas. Barcos e casas flutuantes ficaram
encalhados nas margens a mais de 1 quilômetro da água corrente dos Rios Negro, Solimões e Amazonas. O nível do
Rio Amazonas baixou ao menor valor já registrado em Manaus até hoje! Em 1926, a onipotência humana ainda não
tinha dimensões amazônicas. Ninguém se sentia capaz de secar o Amazonas, destruir o planeta ou muito menos
realizar sua salvação. Ninguém culpou o desmatamento da Amazônia. A seca de 1926 na bacia amazônica tinha um “responsável”, o fenômeno climático El Niño.

 

Sem chuvas, as matas dos igapós pareciam de terra firme. A mortandade de peixes foi grande, para alegria de muitas
aves. Em Rondônia, na Cachoeira de Santo Antônio, podia-se quase atravessar o Rio Madeira sobre as rochas. Em
Manaus, casas sobre palafitas ficaram em terra seca. Imensas ilhas e praias de areia surgiram nos rios. Há séculos é
assim, a cada três ou quatro anos, com maior ou menor intensidade. Não se assuste com imagens midiáticas.
O El Niño é um fenômeno atmosférico-oceânico de ocorrência no Pacífico Equatorial, há milhares de anos. As
águas ficam com temperaturas superiores à condição média histórica. Essa mudança acarreta efeitos globais nos
padrões de circulação atmosférica, transporte de umidade, temperatura e precipitação, diferenciados em várias partes
do planeta.

 

A concentração de águas oceânicas mais quentes nas costas do Peru reduz os cardumes e prejudica a pesca. Por
ocorrer no tempo do Advento do Natal, os pescadores, há séculos, deram ao fenômeno um nome associado ao
do Menino Jesus. Era um sinal. Um direito trabalhista: El Niño desejava vê-los descansar e passar mais tempo
com suas famílias no Advento do Senhor.

Em muitas questões climáticas, como no El Niño, as narrativas do perene consórcio da mídia e seus
“especialistas” apresentam como excepcionais eventos absolutamente normais. E tentam impor comportamentos e
teses anormais à sociedade, como se normais fossem.

"Ano chuvoso ou seco, quente ou mais frio, sempre favorece algumas culturas e prejudica outras. Não existe clima
ideal simultaneamente para todas as atividades agropecuárias."

O leitor não se assuste com narrativas climáticas catastrofistas. Nos últimos cem anos, foram contabilizados 27
episódios de El Niño de intensidades variadas. O fenômeno pode durar um ano, dois e até três. Foram 54 anos sob
influência do El Niño, em um século, desde 1923! Nada de excepcional neste advento do El Niño, ao contrário do
assinalado por parte da mídia apocalíptica e seus habituais “especialistas”, em tom de terrorismo climático.

Os registros temporais do El Niño alcançam um século e meio, com vários tipos e consequências. Quem tiver
paciência pode ler e constatar as durações e intensidades: 2018-2019, fraca; 2014-2016, forte; 2009-2010, moderada;
2006-2007, forte; 2004-2005, fraca; 2002-2003, moderada; 1997-1998, forte; 1994-1995, moderada; 1990-1993, forte;
1986-1988, moderada; 1982-1983, forte; 1979-1980, fraca; 1977-1978, fraca; 1976-1977, fraca; 1972-1973, forte;
1968-1970, moderada; 1965-1966, moderada; 1963, fraca; 1957-1959, forte; 1953, fraca; 1951, fraca; 1946-1947,
moderada; 1939-1941, forte; 1932, moderada; 1925-1926, forte; 1923, moderada; 1918-1919, forte; 1913-1914,
moderada; 1911-1912, forte; 1905-1906, forte; 1902-1903, forte; 1899, forte; 1896-1897, forte; 1888-1889, moderada;
e 1877-1878, forte.

Qual será a intensidade e a duração do El Niño 2023-2024? Ninguém sabe. Houve uma dezena de eventos de forte
intensidade em cem anos. O último ocorreu entre 2014 e 2016. Na Amazônia, o nível do Rio Negro baixou mais de
7 metros, apenas em outubro de 2015. Dada a dificuldade de locomoção, as aulas foram suspensas para mais de 3
mil alunos de 29 escolas de Manaus. A capital enfrentou por mais de 20 dias a fumaça de mais de 11 mil focos de
queimadas na Amazônia. Com a queda na vazão dos principais rios amazônicos, as usinas hidrelétricas
paralisaram turbinas e operaram em níveis de geração muito baixos. Prefeituras distribuíram água com caminhõespipa, como em Paraopeba, dada a seca nos reservatórios.

Planta tenta resistir ao período de seca, na região amazônica (9/12/2006) | Foto: Shutterstock

Como neste ano, em 2015 uma onda de calor, bem maior, atingiu o Centro-Oeste, o Sudeste, parte do Norte e do
Nordeste entre setembro e outubro. Mais de 30 cidades com estações do INMET registraram temperaturas
acima de 40 °C em 16 de outubro. Palmas registrou 42,1 °C nesse dia. E Manaus teve a sua maior
temperatura em 90 anos: 38,9 °C, em 21 de setembro de 2015.

Agora, a presença do enfant terrible do clima assanha jornais e editoriais: “El Niño ameaça a inflação e já preocupa o
Banco Central”, anuncia o Valor Econômico. Mais um ponto na atribulada pauta de Roberto Campos Neto, o
presidente do Banco Central. “El Niño deve virar Super El Niño e intensificar efeitos no clima no fim do ano”, vaticinam
na CNN. E o catastrofismo não se limita ao Brasil: “El Niño representa a maior ameaça em décadas para espécies
vulneráveis em Galápagos”, avisa a agência AFP. Haja travessura.

Foto: Reprodução/CNN

Para os Velhinhos do Restelo, apesar de todo o investimento em tecnologias, desta vez o agro não escapará das
travessuras do “El Niño Travieso”. A safra brasileira será uma das mais prejudicadas do mundo pelo fenômeno
climático El Niño, profetizam na mídia.

Ano chuvoso ou seco, quente ou mais frio, sempre favorece algumas culturas e prejudica outras. Não existe clima
ideal simultaneamente para todas as atividades agropecuárias. No Nordeste, irregularidade e falta de chuvas podem
trazer prejuízos às culturas intensivas na região do Matopiba. Para tanto, o fenômeno deveria ser muito intenso
desde já. E isso ainda não ocorre. Frustrações de safra de milho e feijão no semiárido trarão dificuldades aos
pequenos agricultores do sertão. Ações estão previstas pelas autoridades?

A mesma falta de chuvas favorece a irrigação no Vale do São Francisco e no semiárido. O excesso de chuvas entre
2021 e início de 2022 comprometeu 80% das safras de uva e de manga do primeiro semestre, com prejuízos
estimados em R$ 60 milhões. Com as chuvas, as uvas incham e estouram. Na irrigação é dada a água em
quantidade necessária para a parreira se desenvolver bem e produzir frutos de qualidade. Para quem irriga é melhor
não chover, nunca.

Rio São Francisco, em Paulo Afonso, na Bahia | Foto: Shutterstock

El Niño é sinônimo de boas perspectivas para os grãos. Seus padrões de chuva e temperatura favorecem as regiões
produtoras de soja e milho no Sul, Sudeste e parte do Centro-Oeste. Sobretudo para o milho de segunda safra,
produzido no inverno, com o aumento da umidade e a maior regularização das chuvas no Sul e no Sudeste. Algumas
pragas, doenças e plantas daninhas terão o desenvolvimento favorecido pelo aumento da pluviosidade. Os produtores
têm tecnologias para enfrentá-las, mesmo com mais gastos com defensivos. Mais chuvas no Sul e no Sudeste
favorecem a produção e a permanência das pastagens, mesmo no inverno, com benefício à pecuária.

Muita chuva, pode causar encharcamentos, prejudicar a cana-de-açúcar, o café e a operação de máquinas no campo.
Muita umidade derruba a concentração de açúcar na cana, diminui a extração do caldo (etanol e açúcar) e dificulta
colheita e transporte para moagem. Para comprometer a safra, o fenômeno precisaria ser muito intenso em 2023 e no
início de 2024. Difícil.

Fonte: https://revistaoeste.com/revista/edicao-186/ha-cem-anos-um-menino-travesso-quase-secou-o-rio-amazonas/

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